Eu sempre fui encantado pela beleza das helicônias. Há cerca de 10 anos, quando comecei a cuidar de plantas, consegui uma muda para plantar. No caminho do metrô para casa, quando voltava do trabalho, passava por uma casa com um belo canteiro de helicônias na frente. Foi então que peguei uma muda e plantei, mas ela não vingou. Suspeitei, talvez, porque eu a havia tomado sem pedir permissão à dona da casa. Em outra oportunidade, então, quando a vi, pedi uma nova muda e plantei em casa. A helicônia pegou!
Nos últimos anos, logo que comecei a cuidar do nosso jardim, levei mudas da minha helicônia e plantei, fazendo este canteiro da foto. Certa vez, podando as touceiras, puxei mudas com raízes e resolvi colocá-las do lado de fora do muro, para que alguém pudesse levá-las. Não deu cinco minutos, passou um garoto de uns 6 a 7 anos na sua pequena bicicleta. Ele viu as mudas e perguntou:
– Moço, posso pegar?
– Sim! Coloquei aí para isso! – respondi, ao que ele me retornou:
– Vou levar para a minha avó plantar em casa.
Nessa hora, senti não apenas ter facilitado que o garoto tivesse uma helicônia em casa, mas principalmente, ter contribuído para que ele desenvolva o seu interesse e cuidado com as plantas. No mais, também tive quase certeza que é necessário, de fato, pedir permissão para pegar plantas de outro jardim. Mesmo estando as mudas já expostas na calçada, o pequeno garoto ensinou-me instintivamente como fazer.
Outra vez, cuidando das plantas perto do muro, outro pequeno garoto passou com seu pai, indo para a escola. Vendo-me, ele espontaneamente me perguntou:
– Quer ajuda?
Rimos cordialmente, eu e o pai. Agradeci, e respondi que não seria necessário. Eles continuaram seguindo.
Pequenos causos como esses me fazem compreender o poder de sinergia que o Jardim possui: poder de integrar pessoas em um propósito comum de cuidado com a vida. Hoje, sempre que podo mudas e flores, deixo algumas no muro, para que mais pessoas possam levá-las. Seja para plantá-las, seja para colocar na água e embelezar por alguns dias a sua casa. São simplicidades que constróem, singelezas que transformam, gentilezas que preenchem os dias e atravessam muros.