O viajante se deslumbrara com a inteligência do homem que lhe falava. Havia chegado há poucos dias naquela cidade e fora conhecer magnífica biblioteca pública. O anfitrião era preciso ao lhe contar a respeito das muitas obras disponíveis, desde antigos escritos até publicações as mais recentes. Já havia lido muitas delas, e sabia explanar como ninguém sobre o panorama histórico e literário que as interconectava. Inclusive relatara sobre toda a história da Biblioteca, desde sua construção até os dias atuais. Este era um literato.
Encantado, o viajante perguntou por uma específica das obras, ao que o homem respondeu:
– Pergunta ao bibliotecário, ele saberá te dizer a seção exata onde encontrar tal obra.
Dirigindo-se ao bibliotecário, o viajante foi surpreendido por uma nova rica explicação. Este era um homem letrado. Não havia lido tantas das obras, mas sabia bem a classificação de todas elas, em suas respectivas categorias literárias. Contou-lhe então dos dados técnicos de todo o acervo, da vasta quantidade de setores, e o viajante novamente se deslumbrou. E quanto ao livro que ele buscava, o bibliotecário lhe disse:
– O encontrarás naquela específica seção. Porém, não sei dizer se o conteúdo é exatamente sobre o que procuras.
Seguindo, então, o viajante encontrou o livro desejado. Buscou uma mesa em um dos muitos espaços da biblioteca e começou a ler aquela obra. Notou, contudo, que já passara bastante tempo de sua chegada. Já não podia despender uma longa leitura na biblioteca, nem tentar cadastrar-se para alugar o livro, pois breve tomaria destino em sua viagem. E o viajante se entristeceu. Notou, contudo, um jovem próximo, lendo um livro do mesmo autor da obra que tinha em mãos. Levantou-se então e arriscou perguntar-lhe:
– Olá, você conhece este livro? Poderia me falar sobre ele? Preciso partir e já não tenho tempo para lê-lo.
O jovem respondeu afirmativamente. Dissera não ter lido o livro completamente, mas uma boa parte, pois trabalhava, e tirava apenas um pouco do seu tempo de descaso após o almoço para ler na biblioteca. Contou-lhe, porém, detalhadamente o que lera: uma grande parte da história em seus pormenores. Além disso, falou a respeito do autor e sua história, explicando as origens e motivações de suas obras. E também falou de detalhes físicos do livro, desde o cheiro que emanava até a textura de suas páginas, sua diagramação e a tipografia utilizada. Este era apenas um bom leitor.
Mais uma vez o viajante se surpreendeu. Havia passado por três diferentes pessoas, cada qual detentora de um rico saber, mas cada uma diferente da outra. Todas cumprindo bem as suas competências, com saberes que se complementavam, se entrecruzavam, mas que exalavam um encanto todo especial, por estarem dimensionados pelos próprios propósitos e enredos da vida de cada um.
Enfim, o viajante partiu, saiu da biblioteca extasiado. Por não limitar a capacidade do Saber, e por se ter spermitido aprender com cada pessoa que encontrou, é que ele pôde rapidamente conhecer a biblioteca, seu acervo e, principalmente, uma obra que enriqueceu o seu conhecimento. Além disso, alimentara a própria história da sua vida, com o saber que cresce lado a lado junto a todos os demais saberes.